Justiça de transição e direitos humanos: dilemas na afirmação de um direito a esquecer

Autores

  • Vanice Regina Lírio do Valle
  • Luciana Almeida Menezes

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v12i48.183

Palavras-chave:

justiça de transição, proteção aos direitos humano, direito ao perdão.

Resumo

As soluções idealizadas por distintos países para superar o desafio da redemocratização, não obstante um passado recentes de violação a direitos humanos foi sistematizada na categoria justiça de transição, Experiências recentes, especialmente na América do Sul foram analisadas por cortes internacionais, com decisões que por vezes adotam um caminho diferente no que toca à possibilidade jurídica de empreender à anistia e ao perdão. No Brasil, a Lei 6683/79, que anistiou crimes durante a ditadura militar, foi declarada constitucional pela Suprema Corte – mas foi censurada pela Corte Internacional de Direitos Humanos, que proclamou no Caso Lund, sua incompatibilidade com as cláusulas de proteção a direitos humanos. A questão irresolvida – mesmo no caso brasileiro – se relaciona ao sentido que se pode emprestar à idéia central de justiça que se deva oferecer em momentos de transição – e depois. Enfatizar a persecução penal reflete uma premissa que justiça não possa ser encontrada no perdão ou na reconciliação; negando a validade dessas escolhas – não obstante sejam esses comportamentos também uma parte importante da condição humana.

Biografia do Autor

  • Vanice Regina Lírio do Valle

Referências

ARENDT, Hannah. Responsabilidade e julgamento. Tradução de Rosaura Einchenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

BABBITT, Eileen F.. The New Constitutionalism: An Approach to Human Rights from a Conflict Transformation Perspective, in Véronique Dudouet and Beatrix Schmelzle (eds.) 2010. Human Rights and Conflict Transformation: The Challenges of Just Peace. Berghof Handbook Dialogue No 9. Berlin: Berghof Conflict Research. p.67-74

BARCELLOS, Ana Paula. Ponderação, racionalidade e atividade jurisdicional. Rio de Janeiro – São Paulo – Recife: Editora Renovar, 2005, p. 115.

BASTOS, Lucia Elena Arantes Ferreira. Anistia: as leis internacionais e o caso brasileiro. Curitiba: Juruá, 2009.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 11 ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BOSIRE, Lydiah Kemunto. Grandes promessas, pequenas realizações: justiça transicional na África Subsaariana. Sur, Rev. int. direitos human., São Paulo, v. 3, n. 5, dez. 2006 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452006000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 novembro 2011.

BRASIL. Lei n. 6.683, de 28 de agosto de 1979. Concede anistia e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6683.htm>. Acesso em 25 novembro 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 153 Distrito Federal. Ministro Relator Eros Grau. Sentença disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF153.pdf>. Acesso em 26 novembro 2011.

BRASIL. Grupo Tortura Nunca Mais. Disponível em: < http://www.torturanuncamais-rj.org.br>. Acesso em 11 dezembro 2011.

CHILE. Decreto-Lei 2.191 de 18 de abril de 1978. Concede amnistía a las personas que indica por los delitos que señala. Disponível em: <http://www.usip.org/files/file/resources/collections/commissions/Chile90-AmnestyLaw_decree2191.pdf>. Acesos em 16 de fevereiro de 2012.

ESTER, Jon. Forças e Mecanismos no Processo de Elaboração da Constituição. in: BIGONHA, Antonio Carlos Alpino; MOREIRA, Luiz. Limites do Controle de Constitucionalidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p.9-63.

FILIPE, Angela Marques. O processo de reconciliação na Africa do Sul. CIARI – Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais. [on line], disponível em <http://www.ciari.org/investigacao/processo_reconciliacao_africa_sul.pdf>, acesso em 30 de janeiro de 2012.

FLORES, Joaquín Herrera. Direitos humanos, interculturalidade e racionalidade de resistência. In: WOLKER, Antonio Carlos (Org.). Direitos humanos e filosofia jurídica na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. O preço de uma reconciliação extorquida. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

HAYNER, Priscilla B. Unspeakable truths: transitional justice and the challenge of truth commissions. 2nd ed. New York: Routledge, 2011. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=A1l5SZCx-dEC&printsec=frontcover&dq=transitional+justice&hl=pt-BR&ei=ihrTTofNDIXMgQehxonEDQ&sa=X&oi=book_result&ct=book-thumbnail&resnum=9&ved=0CFkQ6wEwCA#v=onepage&q&f=true. Acesso em 26 novembro 2011.

JARDIM, Tarciso Dal Maso. Justiça transicional e a ONU. Universitas. Relações internacionais. Vol. 4, nº 1, 2006, [on line], disponível em < http://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index.php/relacoesinternacionais/article/view/246> acesso em 30 de janeiro de 2012.

JELIN, Elizabeth. La justicia después del juicio: legados y desafios em La Argentina postdictatorial. In: FICO, Carlos et al. (Orgs.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. 9ª edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1996.

LEMOS, Renato. Anistia e crise política no Brasil pós-1964. Rio de Janeiro: Topoi, dezembro 2002, pp. 287-3113. Disponível em: http://www.lemp.ifcs.ufrj.br/imagens/textos/Anistia_e_crise_politica_no_Brasil_pos-64.pdf. Acesso em 27 novembro 2011.

MEZAROBBA, Glenda. O processo de acerto de contas e a lógica do arbítrio. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

MIRANDA, Jorge. A Constituição de Angola de 2010. in Systemas – Revista de Ciências Jurídicas e Econômicas, v. 2, n. 1, p.119-146, 2010 [on line], disponível em <http://revistasystemas.com.br/index.php/systemas/article/view/30/30>, acesso em 27 de janeiro de 2012.

OEA. Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 22 de novembro de 1969. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/oea/oeasjose.htm>. Acesso em 26 novembro 2011.

OEA. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso "Chumbipuma Aguirre vs. Perú", sentencia del 14 de marzo de 2001, Serie C N° 75, disponível em < http://www.worldlii.org/int/cases/IACHR/2001/5.html>, acesso em 20 de fevereiro de 2012.

OEA. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) VS. Brasil. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 24 de noviembre de 2010 Versão em Português Serie C No. 219. Juez ad-hoc Figueiredo Caldas. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_esp.pdf>. Acesso em 23 novembro 2011.

OEA. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, de abril de 1948. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/oea/oeadcl.htm>. Acesso em 26 novembro 2011.

ONU. Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, de 27 de julho de 1981. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/africa/banjul.htm>. Acesso em 26 novembro 2011.

ONU. Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, de 04 de abril de 1950. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/euro/ue_convencao_europeia_dh.pdf>. Acesso em 26 novembro 2011.

ONU. Declaração de Direitos Humanos de Viena, de 25 de junho de 1993. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/viena/viena.html. Acesso em: 27 novembro 2011

ONU. Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, de 18 de dezembro de 1992. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/desaparec/lex71.htm>. Acesso em 26 novembro 2011.

ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm>. Acesso em 26 novembro 2011.

PA, Alfredo Boccia. Los “arquivos del horror” del Paraguay: los papeles que resignificaron la memoria del stronismo. In: FICO, Carlos et al. (Orgs.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

PALERMO, Pablo Galain. La justicia de transición em Uruguay: um conflicto sin resolución, Revista de Derecho Penal y Criminología, 3.a Época, n.o 6 (j2011), págs. 221-270, [on line], disponível em http://e-spacio.uned.es/fez/eserv.php?pid=bibliuned:revistaDerechoPenalyCriminologia-2011-6-5080&dsID=Documento.pdf, acesso em 20 de fevereiro de 2012.

PHILPOTT, Daniel. Religion reconciliation and transitional justice: the state of the Field. Social Science Research Council, working papel, 17 October 2007, disponível em <http://www.global.ucsb.edu/orfaleacenter/luce/luce08/documents/Philpott_SSRC-working-paper.pdf>, acesso em 30 de janeiro de 2012).

PIOVESAN, Flávia. Direito internacional dos direitos humanos e lei de anistia: o caso brasileiro. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

PIOVESAN, Flávia. Introdução ao sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: a convenção americana de direitos humanos. In: GOMES, Luiz Flávio; PIOVESAN, Flávia. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos e o direito brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.

REPÚBLICA ARGENTINA. Corte Suprema de Justicia. S. 1767. XXXVIII. "Simón, Julio Héctor y otros s/ privación ilegítima de la libertad, etc. —causa N° 17.768—" – CSJN – 14/06/2005, disponível em < http://www.urbeetius.org/newsletters/07/news7_jurisprudencia.pdf>, acesso em 21 de fevereiro de 2012.

REPÚBLICA ARGENTINA. Ley 23.492, de 23 de deciembre de 1986. Dispónese la extinción de acciones penales por presunta participación, en cualquier grado, en los delitos del artículo 10 de la Ley Nº 23.049 y por aquellos vinculado a la instauración de formas violentas de acción política.

REPÚBLICA ARGENTINA. Ley 23.521, de 4 de junio de 1987. Delimitación prevista em los alcances Del deber de obediência, se fijan limites AL sistema de enjuiciamiento dispuesto por El art. 10 de La Ley 23049.

REPUBLICA ARGENTINA. Ley 25.779 de 3 de septiembre de 2003. Declaranse insanablemente nulas lãs Leyes Nros. 23.492 Y 23.521

REPÚBLICA DE CHILE. Decreto-Ley 2191 de 18 de abril de 1978. Concede amnistía a lãs personas que indica por los delitos que señala.

REPÚBLICA DE CHILE. Ley nº 19.123 de 8 de fevereiro de 1992. Crea corporación nacional de reparación y reconciliación, establece pensión de reparación y otorga otros benefícios em favor de personas que señala.

REPÚBLICA DE CHILE.. MINISTÉRIO DE JUSTICIA. Decreto Supremo nº 335 de 25 de abril de 1990 – Crea Comision de Verdad y Reconciliación.

REPÚBLICA ORIENTAL DEL URUGUAY. Decreto Presidencial nº 146/2003, de 16 de abril de 2003 – Se aceptan lãs conclusiones el Informe Final de la Comisión para la paz.

REPÚBLICA ORIENTAL DEL URUGUAY. Ley 15.737 de 8 de marzo de 1985 – Se aprueba la Ley de Amnistía.

REPÚBLICA ORIENTAL DEL URUGUAY. Ley 15.848 de 28 de deciembre de 1986. Funcionarios militares y policiales se reconoce que há caducado el ejercicio de la pretension punitiva del Estado respecto de los delitos cometidos hasta el 1° de marzo de 1985. Disponível em: <http://www0.parlamento.gub.uy/leyes/AccesoTextoLey.asp?Ley=15848&Anchor=>. Acesso em 16 de fevereiro de 2012.

REPÚBLICA ORIENTAL DEL URUGUAY. Resolución nº 858 de 9 de agosto de 2000, que cria a Comissão para a Paz.

RWANDA, ORGANIC LAW N° 40/2000 OF 26/01/2001 SETTING UP « GACACA JURISDICTIONS » AND ORGANIZING PROSECUTIONS FOR OFFENCES CONSTITUTING THE CRIME OF GENOCIDE OR CRIMES AGAINST HUMANITY COMMITTED BETWEEN OCTOBER 1, 1990 AND DECEMBER 31, disponível em <http://www.inkiko-gacaca.gov.rw/pdf/Law.pdf> acesso em 31 de janeiro de 2012.

SANTOS, Rita Gomes. O contributo da Comissão de Verdade e Reconciliação na transição pós 1994 na África do Sul. Disponível em: <http://www.ciari.org/investigacao/contributo_comissao_verdade_africa_sul.pdf>. Acesso em 11 dezembro 2011.

TEITEL, Ruti G. Transitional justice. Oxford: Oxford University Press, 2002. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=8gvw5bq8A8gC&printsec=frontcover&dq=transitional+justice&hl=pt-BR&ei=7xHTTtSGL8XBgAfwxOnjDQ&sa=X&oi=book_result&ct=book-thumbnail&resnum=1&ved=0CDAQ6wEwAA#v=onepage&q&f=false. Acesso em 25 novembro 2011.

TELES, Edson. Entre justice e violência: estado de exceção nas democracias do Brasil e da África do Sul. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

TELES, Janaína de Almeida. Os familiares de mortos e desaparecidos políticos e a luta por “verdade e justiça” no Brasil. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

UNITED NATIONS. What is transitional justice? A Backgrounder, February 2008 [on line], disponível em<http://www.un.org/fr/peacebuilding/wgll/justice_times_transition/26_02_2008_background_note.pdf>, acesso em 30 de janeiro de 2012.

WEICHERT, Marlon Alberto. Suprema impunidade no julgamento da ADPF 153. In: SARMENTO, Daniel; SARLET, Ingo Wolfgang (coordenadores). Supremo Tribunal Federal: balanço e crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

WESTBERG, Megan M.. Rwanda’s use of transitional justice after genocide: the gacaca courts and the ICTR, Kansas Law Review, Vol. 59, 2011, p. 331-367.

Downloads

Publicado

2012-04-16

Edição

Seção

Artigos