Legitimidade política e compatibilidade constitucional: a recepção pelos juristas das propostas de assembleia constituinte exclusiva para alterar o sistema político

Autores

  • Alexandre Araújo Costa
  • Eduardo Borges Araújo

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v15i60.58

Palavras-chave:

Constitucionalismo, Poder constituinte, Reforma política

Resumo

O presente trabalho analisa a recepção pela comunidade jurídica de propostas de convocação de processo constituinte especial para reformar o sistema político brasileiro, possuindo como objetivo principal compreender o papel da teoria constitucional em seu entendimento sobre fenômenos políticos. É realizado um levantamento sobre as críticas formuladas por juristas a propostas de reforma excepcional do texto constitucional a fim de evidenciar a influência da doutrina constitucionalista sobre o discurso jurídico – com especial destaque à categoria do poder constituinte. A pesquisa joga luz na forma como a recepção de um conceito originalmente revolucionário pelo constitucionalismo liberal levou à sua ressignificação, deixando de ser elemento legitimador de ruptura da ordem à elemento legitimador de manutenção da ordem, e na função cumprida pelas remissões à teoria constitucional no discurso dos juristas acerca das propostas de assembleia exclusiva para a modificação dos dispositivos constitucionais sobre sistema político, que termina por exigir a adequação da prática política à teoria jurídica. Com isso, ajuda-se a esclarecer como o discurso jurídico contemporâneo, de matriz constitucional, reduz questões de legitimidade política a questões de adequação constitucional, resultando em uma teoria jurídica de papel tipicamente conservadora. Em vez de fomentar a discussão sobre a legitimidade e conveniência de inovações constitucionais destinadas a lidar com os limites do sistema, a doutrina impede o debate ao privilegiar o discurso liberal frente ao discurso democrático. Ao final, evidencia-se a consolidação de uma cultura jurídica que não propõe a articulação entre direito e político, mas a subordinação do discurso político ao discurso jurídico.

Biografia do Autor

  • Alexandre Araújo Costa

Referências

ACKERMAN, Bruce. We the people. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

AGESTA, Luís Sanches. Princípios de teoria política. 6 ed. Madrid: Nacional, 1976.

AMORIM NETO, O.; CORTEZ, B. F.; PESSOA, S. de A. Redesenhando o Mapa Eleitoral do Brasil. Opinião Pública, v. 17, n. 1, p. 45–75, jun. 2011.

ARENDT, Hannah. Da revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

BARBOSA, Leonardo A. Mudança Constitucional, Autoritarismo e Democracia no Brasil pós-64. 409 p. 2009. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito da UnB, Brasília, 2009.

BENVINDO, Juliano Z. A prosaic reading of constitutional moments. fev. 2014. Trabalho inédito.

BOBBIO, N. Teoria do Ordenamento Jurídico. 6 ed. Brasília: Editora UnB, 1995.

BOM DIA BRASIL. Plebiscito para convocar constituinte gera polêmica entre juristas. G1. Disponível em: <http://goo.gl/IhigxZ>. Acesso em: 26 jan. 2014.

BODIN, Jean. Six Books of the Commonwealth. Oxford: Basil Blackwell, 1955.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10 ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposta de Emenda à Constituição n.º 384, de 2009. Disponível em: http://bit.ly/18AZK2u. Acesso em: 11 mar. 2015.

CONSTANT, Benjamin. Escritos de política. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

CONSULTOR JURÍDICO. Manifesto vai contra reforma política. Consultor Jurídico, 25 jun. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/dcw63r >. Acesso em: 29 jan. 2014.

COSTA, Alexandre A. O poder constituinte e o paradoxo da soberania limitada. Teoria & Sociedade, Belo Horizonte, UFMG, n. 19, v. 1, jan./jun. 2011.

COSTA, Alexandre B. Poder Constituinte no Estado Democrático de Direito. Veredas do Direito, Belo Horizonte, Escola Superior D. Helder Câmara, n. 5, v. 3, jan./jun. 2006.

COUTO, Cláudio G. Alarmismo infundado. Folha de São Paulo, 4 set. 2010. Disponível em: <http://goo.gl/JcIISY>. Acesso em: 24 jun. 2014.

DERRIDA, Jacques. Força de lei. Martins Fontes: São Paulo, 2010.

DURKHEIM, Émile. O suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ELSTER, Jon. Ulisses liberto. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

ELSTER, Jon. Ulyses y las sirenas. México: Fondo de Cultura Econômica, 1980.

FERRAZ JR., T. S. Função social da dogmática jurídica. São Paulo: RT, 1980.

FIORAVANTI, M. Constitución. Madrid: Trotta, 2001.

GARGARELLA, R. Pensando sobre la reforma constitucional en América Latina. In: GARAVITO, César R. (coord.). El derecho en América Latina. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2011.

GOMES, Kelton de O. Em defesa da sociedade? 107 p. 2015. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito da UnB, Brasília, 2015. p. 41.

GOYARD-FABRE, Simone. Os princípios filosóficos do direito político moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

HAIDAR, R. Brasil dormiu como Alemanha e acordou como Venezuela. Consultor Jurídico, 25 jun. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/yXry43>. Acesso em: 30 jan. 2014.

HAIDAR, R. Judiciário não deve se sobrepor aos demais poderes. Consultor Jurídico, 30 out. 2010. Disponível em: <http://goo.gl/WQicfT >. Acesso em: 18 fev. 2014.

HOBBES, Thomas. Leviathan. Adelaide: The University of Adelaide Library, 2014.

KOERNER, Andrei; FREITAS, Lígia B. de. O Supremo na Constituinte e a Constituinte no Supremo. Lua Nova, São Paulo, CEDEC, n. 88, 2013.

LARENZ, K. Metodologia da ciência do direito. Lisboa: Kalouste Gulbenkian, 1993.

LEMAITRE, Julieta. Legal Fetichism at Home and Abroad. Unbound: Harvard Journal of the Legal Left, n. 6, v. 3, 2007.

LIMA, Luziano Pereira Mendes de. A atuação da esquerda no processo constituinte. Brasília: Edições Câmara, 2009.

LIMONGI, Fernando. Em defesa do congresso. Valor Econômico, 30 abr. 2013.

LOCKE, J. Segundo Tratado Sobre O Governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MADISON, James. Property. Em: HUTCHINSON, W. T et alii (ed.). The papers of James Madison. Chicago and London: University of Chicago Press, 1962. Disponível em: http://bit.ly/1Bxvhg3. Acesso em: 11 mar. 2015.

MENDES, Conrado H. Controle de constitucionalidade e democracia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

MIGALHAS. Barroso fala sobre constituinte e reforma política. Migalhas, 25 jun. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/6cYIaE>. Acesso em: 1 fev. 2014.

MIGUEL, L. F. Democracia e Representação. São Paulo: Unesp, 2014.

MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

NEVES, Marcelo. Entre Hidra e Hércules. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

OLIVEIRA, Mariana. Juristas questionam proposta de Constituinte para reforma política. G1, Rio de Janeiro, 24 jun. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/x39GPw>. Acesso em: 01 fev. 2014.

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (ES). Comissão de Estudos Constitucionais da OAB-ES divulga nota sobre convocação de um processo constituinte específico para a reforma política. Disponível em: <http://goo.gl/BYBFof/>. Acesso em: 2 mar. 2015.

PARTIDO DOS TRABALHADORES, Resolução do 3º Congresso do PT (2007) sobre Reforma Política e Constituinte. 2007. Disponível em: http://bit.ly/1b2vDCT. Acesso em: 11 mar. 2015.

PASSARINHO, Nathalia. Para Barroso, reforma política pode ser feita por Constituinte com limites. G1, Brasília, 25 de junho de 2014. Disponível em: <http://goo.gl/qkRr0M>. Acesso em: 1 fev. 2014.

PINTO, Cristiano A. P.; CARVALHO NETTO, Menelick. Entre permanência e mudança. In: MOLINARO, Carlos A et alii (Orgs.). Constituição, jurisdição e processo. 1ed. Sapucaia do Sul: Notadez, 2007, v. 1, p. 97-109.

PINTO, Cristiano A. P. O retorno de um fantasma. Constituição & Democracia, v. III, n. 33, p. 4–5, 2009.

PINTO, Cristiano A. P.; MAGALHÃES, Juliana N.; CATTONI, Marcelo; CHUEIRI, Vera K. de. Constituinte exclusiva é ilegal e ilegítima. Consultor Jurídico, 27 jun. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/KHW0xx>. Acesso em: 25 jan. 2014.

POSNER, R. Against constitutional theory. New York University Law Review, v. 73, n. 1, p. 1–22, 1998.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Dilma propõe plebiscito para reforma política. Disponível em: <http://goo.gl/1ZMigY>. Acesso em: 10 jun. 2014.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

SALGADO, E. D.; GABARDO, E.; HACHEM, W. Política para quem não quer só comida. Disponível em: <http://goo.gl/QvrrgD>. Acesso em: 26 jun. 2014.

SALGADO, Eneida D. A representação política e sua mitologia. Paraná Eleitoral, Curitiba, Tribunal Regional Eleitoral, v.1, n.1, 2012.

SIEYÈS, Emmanuel J. Qu'est-ce que le Tiers état? Paris: Éditions du Boucher, 2002.

SILVA, José A. da. Nova Constituinte deve ser barrada pelo STF. Consultor Jurídico, 4 set.2010. Disponível em: http://bit.ly/1AkgqBZ. Acesso em: 25 jan. 2014.

TEMER, Michel. 2007. Não à constituinte exclusiva. Folha de São Paulo, 4 set. 2007. Disponível em: <http://bit.ly/1xdmA6G>. Acesso em: 11 de março de 2015

UOL. Governo desiste de constituinte, mas mantém ideia de plebiscito sobre reforma política. Disponível em: <http://goo.gl/avkf4r>. Acesso em: 10 jun. 2014.

VALLINDER, T. The Judicialization of Politics: A Worldwide Phenomenon: Introduction. International Political Science Review. [S.l: s.n.]., 1994

VIEHWEG, T. Tópica e Jurisprudência. Brasília: Ministerio da Justiça, 1979.

VILHENA, Oscar Vieira. Supremocracia. Revista Direito GV 8, São Paulo, v. 4, n. 2, jul./dez. 2008.

Downloads

Publicado

2015-04-14

Edição

Seção

Artigos