O constitucionalismo da falta no Brasil

Autores

  • Nelson Camatta Moreira Faculdade de Direito de Vitória
  • Rodrigo Francisco de Paula Faculdade de Direito de Vitória

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v17i70.497

Palavras-chave:

constitucionalismo brasileiro, História do Direito, teoria crítica da Constituição, Hannah Arendt, Paul Ricœur.

Resumo

As narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro ainda predominantes na dogmática constitucional são marcadas por um ressentimento quanto ao passado constitucional, no sentido de que as experiências brasileiras representam a história de um fracasso, ou de uma tragédia, do processo de constitucionalização no Brasil. Assim, pretende-se, neste artigo, a formulação de uma crítica a essa perspectiva da dogmática constitucional, apontando-se, com Hannah Arendt, os pressupostos que justificam a história de um constitucionalismo, com o esforço de recordação do ato de fundação, por meio de narrativas que procuram encontrar uma linha de continuidade, entrecortada por avanços e retrocessos, entre o ato de fundação e os atos seguintes como novos começos que o rememoram. Depois, com Paul Ricœur, aponta-se que o ressentimento encontrado nas narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro impede a memória do passado constitucional, resultando na impossibilidade de se fazer uma história do constitucionalismo brasileiro, o que mantém a eternidade e a permanência do fracasso, ou da tragédia, da Constituição e do processo de constitucionalização no Brasil.

 

Biografia do Autor

  • Nelson Camatta Moreira, Faculdade de Direito de Vitória
    Professor da Programa de Pós-graduação Stricto Sensu (Doutorado e Mestrado) e da Graduação em Direito da Faculdade de Direito de Vitória (Vitória-ES, Brasil). Pós-Doutorado em Direito na Universidad de Sevilla, com bolsa da CAPES. Doutorado em Direito pela UNISINOS, com estágio de pesquisa anual na Universidade de Coimbra, com bolsa da CAPES. Líder do Grupo de Pesquisa CNPQ “Hermenêutica Jurídica e Jurisdição Constitucional”, da FDV. Membro Honorário da Rede Brasileira Direito e Literatura. E-mail: nelsoncmoreira@hotmail.com.
  • Rodrigo Francisco de Paula, Faculdade de Direito de Vitória
    Professor pesquisador do Programa Pós-graduação Stricto Sensu (Doutorado e Mestrado) em Direito da Faculdade de Direito de Vitória (Vitória-ES, Brasil). Doutor e mestre em Direito pela Faculdade de Direito de Vitória. Procurador do Estado do Espírito Santo e Advogado. E-mail: rfdepaula@gmail.com.

Referências

ARENDT, Hannah. Between past and future: six exercises in political thought. New York: The Viking Press, 1961.

ARENDT, Hannah. On revolution. London: Penguin Books, 1990.

ARENDT, Hannah. The human condition. 2nd. ed. Chicago: University of Chicago Press, 1998.

BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história. A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. In: BARROSO, Luís Roberto (Org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 327-378.

BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

CARVALHO NETTO, Menelick de. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado Democrático de Direito. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Jurisdição e hermenêutica constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 25-44.

CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Poder constituinte e patriotismo constitucional: o projeto constituinte do Estado Democrático de Direito na Teoria Discursiva de Jürgen Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.

CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Notas programáticas para uma nova história do processo de constitucionalização brasileiro. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constitucionalismo e história do direito. Belo Horizonte: Pergamum, 2011. p. 19-59.

CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade; GOMES, David Francisco Lopes. Independência ou sorte: ensaio de história constitucional do Brasil. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, n. 55, 2012, p. 19-37.

COMPARATO, Fábio Konder. Réquiem para uma Constituição. In: FIOCCA, Demian; GRAU, Eros Roberto. Debate sobre a Constituição de 1988. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 77-87.

LUCAS VERDÚ, Pablo. El sentimiento constitucional: aproximación al estudio del sentir constitucional como modo de integración política. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1985.

LUCAS VERDÚ, Pablo. Consciencia y sentimiento constitucional (examen de los factores psicopolíticos como integradores de la convivencia política). Anuario de Derecho Constitucional y Parlamentario, Universidad de Murcia, n. 9. 1997.

NEVES, Margarida de Souza. Os cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o século XX. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 13-44.

PANZA, Luiz Osório Moraes. Direito e historicidade – A evolução do pensamento jurídico através das escolas hermenêuticas. A & C: Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, Fórum, n. 11, 2003, p. 101-120.

PEREIRA, Vantuil. Ao soberano congresso: direitos do cidadão na formação do Estado Imperial brasileiro (1822-1831). São Paulo: Alameda, 2010.

RIBEIRO, Gladys Sabina. O povo na rua e na justiça, a construção da cidadania e luta por direitos: 1889-1930. In: SAMPAIO, Maria da Penha Franco; BRANCO, Maria do Socorro C.; LONGHI, Patrícia (Coord.). Autos da memória: a história brasileira no arquivo da Justiça Federal. Rio de Janeiro: Gráfica da Justiça Federal da 2ª Região, 2006. p. 155-223.

RICŒUR, Paul. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris: Éditions du Seuil, 2000.

TRIBE, Laurence H.; DORF, Michael C. On reading the Constitution. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

TAMINIAUX, Jacques. Athens and Rome. In: VILLA, Dana (Org.). The Cambridge Companion to Hannah Arendt. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. p. 165-177.

Downloads

Publicado

2017-12-01