Judicialização da saúde, acesso a medicamentos e diálogos institucionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v21i83.1294

Palavras-chave:

direito à saúde, acesso a medicamentos, judicialização da saúde, diálogos institucionais, SUS.

Resumo

O artigo buscou examinar os vínculos entre acesso à justiça e a efetividade de um dos aspectos do direito à saúde no Brasil, o acesso a medicamentos, a partir dos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 566.741/RN e à luz da compreensão e aplicação das teorias dos diálogos institucionais pela Suprema Corte. Discutiu-se que, de maneira geral, há apenas uma enunciação retórica das teorias dos diálogos institucionais (que valorizam, em regra, as capacidades institucionais de cada Poder e a autocontenção do Poder Judiciário) sem de fato aplicá-la. Nesse sentido é representativo o voto do ministro Luís Roberto Barroso, o qual, apesar de expressamente enunciar a aplicação das teorias dos diálogos, não as aplica para resolver o problema da usurpação das funções da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) pelo Poder Judiciário através dos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário (NatJus), perpetuando a dissolução do direito constitucional a políticas públicas de saúde em um mero direito subjetivo a medicamentos. Concluiu-se que uma possível e definitiva solução dessa questão passa pelo aperfeiçoamento do accountability sobre o Poder Judiciário, de modo que, entre outras coisas, possa ampliar o compartilhamento das consequências políticas e econômicas de suas decisões com a sociedade.

Biografia do Autor

  • Daniel dos Santos Rodrigues, Universidade Federal de Minas Gerais
    Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte-MG, Brasil). Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Graduado em Direito (UFG). Promotor de Justiça no Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG). Atualmente exerce a função de membro auxiliar da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). E-mail: danielsrodrigues@live.com.
  • Jordão Horácio da Silva Lima, Faculdade Evangélica Raízes de Direito
    Professor Assistente da Faculdade Evangélica Raízes de Direito (Anápolis-GO, Brasil). Professor da Pós-Graduação de Direito Médico e Proteção Jurídica Aplicada à Saúde (IPOG). Doutor em Saúde Global e Sustentabilidade (USP). Mestre em Saúde Global e Diplomacia da Saúde (Fiocruz). Especialista em Direito Internacional (UFG). Graduação em Direito (UFG) e Relações Internacionais (PUC/GO). Atuou como Analista de Cooperação Internacional do Ministério da Saúde de 2010 a 2015. Atualmente exerce a função de Analista de Logística, Convênios e Contratos junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Advogado e membro da Comissão de Direito Médico, Sanitário e Defesa da Saúde da OAB/GO. E-mail: jordaohoracio@hotmail.com

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2021-03-10

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Artigos